Base Teórica

[ O QUE É EDUCAÇÃO MAKER ? ]

Para início de conversa…


Ao ouvir a expressão Educação Maker, é bem provável que alguma imagem mental já tenha se formado em seu cérebro. É possível, por exemplo, que você tenha imaginado crianças ou adolescentes mexendo com máquinas de impressão 3D, cortadoras laser, tecnologias sofisticadas e aulas de robótica. Talvez você não tenha imaginado algo assim tão elaborado, mas pensou em crianças brincando com diversos kits cheios de materiais maker que prometem estimular a criatividade e o espírito inventivo. 

Quem sabe você tenha imaginado alunos brincando e criando com sucatas variadas e materiais recicláveis, ou até mesmo criancinhas no jardim de infância fazendo massinha pela primeira vez! 

Todas essas imagens, tão distintas entre si, sugerem que a Educação Maker pode ser um conceito tão amplo quanto o número de educadores que usam essa abordagem. Diante disso, entendemos que é importante esclarecer o que queremos dizer quando falamos sobre Educação Maker e por que acreditamos que o trabalho desenvolvido nesse projeto se enquadra como tal. 



Imagens: Thomas Maker



Antes de tudo, é importante esclarecer que ser maker não é um título que alguém ganha ao entrar em algum tipo de clube ou associação. No livro “Maker-Centered Learning: empowering young children to shape their worlds²" Edward Clapp explica que, quando entendemos que ser maker envolve o simples ato de criar coisas, percebemos que “a comunidade maker pode ser vista como mais inclusiva, agregadora e acolhedora para todos aqueles que criam”. Isso faz toda a diferença no nosso trabalho, pois implica reconhecer que crianças pequenas ou muito pequenas podem, sim, ser makers

[2] CLAPP, E. P.; ROSS, J.; RYAN, J. O.; TISHMAN, S. Maker-centered learning: Empowering young people to shape their worlds. San Francisco, John Wiley & Sons, 2016. 256 p.

Imagens: Thomas Maker

Tudo bem, é preciso reconhecer que essa definição é bem abrangente e, ao mesmo tempo em que pode dizer muito, também pode não dizer nada. Afinal, se todos que criam são makers, qual a finalidade de se identificar como tal? 

Diante dessa questão, é importante mencionar a influência do movimento maker para a formação de uma certa identidade cultural em torno desse termo. Assim, Clapp sugere que existe algo de único sobre os tipos de atividades e cultura nas quais a comunidade maker se engaja. 

Diante disso, como enquadrar o movimento maker e a cultura maker de maneira mais inclusiva, ao mesmo tempo em que se reconhece que o trabalho que vem sendo feito em makerspaces e salas de aula centradas no fazer tem um ethos social distinto?”.

Em 2015, a equipe do Thomas Maker se deparou com essa pergunta e, a partir dela, desenvolveu o que ficou conhecido como o “Equalizador da Inteligência Maker”. Criamos uma ferramenta que auxilia na sistematização da autoavaliação de experiências maker tendo como embasamento os resultados das pesquisas realizadas pelo Project Zero (PZ), de Harvard. Assim, o equalizador usa como parâmetros os três grupos de características (constelações) da abordagem maker que ficaram bem nítidos ao longo da pesquisa: comunidade, processos de aprendizagem e espaços.

É importante destacar que o intuito aqui não é ser uma polícia fiscalizadora do que é ou não Educação Maker, mas apenas de reconhecer alguns sintomas que podem indicar quais aspectos da abordagem centrada no fazer estão sendo colocados em prática. Tendo isso em mente, esperamos que o equalizadorseja um bom ponto de partida para entender do que estamos falando quando nos referimos a Educação Maker. Ele está disponível como app tanto para Android como iOS.

Ainda assim, é preciso destacar que o material que desenvolvemos para o Aperte o PLAY tem como foco principal crianças da Educação Infantil, cujas vivências trazem em si características muito particulares. Muitos podem inclusive questionar: “Será que as salas de aula de Educação Infantil já não são maker?” No livro “Jardim de Infância para a Vida Toda4”, Mitchel Resnick sugere que, embora muitos jardins de infância ao redor do mundo adotem práticas cujas características se assemelham ao que descrevemos acima, ainda existem tendências preocupantes baseadas na transmissão mecânica de conhecimento. Aliás, aí está um autor muito importante quando se trata de aprender brincando (e, para aumentar o seu repertório sobre o assunto, traremos sua bio com outras referências mais abaixo). Ao constatar que o jardim de infância tem ficado mais parecido com o restante da escola, ele sugere o movimento oposto: que o restante da escola se pareça cada vez mais com o jardim de infância.

O projeto Aperte o PLAY busca fazer exatamente  esse movimento por meio da integração entre Educação Maker, Aprendizagens Visíveis, Playful Learning, Leituras Elásticas e Educação Socioemocional aplicadas à Educação Infantil. Nesse sentido, o que buscamos desenvolver ao longo das atividades propostas é a construção de competências no uso de determinadas ferramentas, materiais e processos, a consolidação de uma identidade maker e a aquisição de uma variedade de disposições mentais por meio do uso de rotinas de pensamento. Tudo isso de maneira lúdica e divertida, conectada com literatura e muita investigação. Esperamos que até aqui tenha ficado claro o que entendemos por Educação Maker. Na seção abaixo, pretendemos trazer uma breve conceituação de alguns dos princípios norteadores mencionados acima, que foram fundamentais para o desenvolvimento de uma abordagem voltada para a Educação Infantil. Vamos aprofundar um pouco mais esses conceitos?

Conforme já mencionamos, existem três grandes áreas que caracterizam o ethos cultural da Educação Maker — comunidades, processos e espaços. O objetivo principal, desenvolver o Empoderamento Maker, pode ser alcançado pela prática das três Capacidades Maker: olhar de perto, explorar complexidades e achar oportunidades.

Na esperança de que você não esteja, neste momento, demasiadamente confuso, deixe-me brevemente mencionar o que significa o tema Aprendizagens Visíveis. Resumidamente, é um conjunto de práticas que permeiam um movimento educacional que pode ser associado a três grandes linhas de pesquisa. Neste site, trataremos de duas delas que foram inspiração para o nosso trabalho:

[4] RESNICK, Mitchel. Jardim de Infância para a vida toda: por uma aprendizagem criativa, mão na massa e relevante para todos. Porto Alegre, Penso, 2020. 192 p.

Imagem: Istock - Crédito: Sorapop

Imagem: Istock - Crédito: Malija