[ E O QUE É UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA ? ]
Por Clarisse Brito
A primeira questão é se perguntar sobre a necessidade de reforçar o termo, adjetivar com antirracista a revolução educacional que colocamos em pauta.
Nossa sociedade foi pautada em uma ideologia racista. Podemos afirmar ser uma ideologia porque falamos de práticas sociais que passam pela economia, política, cultura, atravessando, assim, as instituições. Em razão desse atravessamento, a responsabilidade chega para nós, educadores. A escola é uma das instituições sociais de maior influência na vida das pessoas.
Como parte da engrenagem social, a escola acaba sendo território de aprofundamento do racismo, pois é nesse espaço que se dá a construção da subjetividade dos indivíduos e a reprodução do imaginário social. Nesse ponto, a célebre frase de Angela Davis nos cabe como uma luva: "Não basta assumir uma postura de combate às reproduções racistas; é necessário agir na desconstrução. Isso é ser antirracista". É tomar decisões que propiciem a ruptura de estruturas e marcas do racismo.
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O primeiro passo da mudança é o reconhecimento do seu lugar social, tomar posse de seu espaço de ação. Esse é o tão debatido lugar de fala, conceito difundido por Djamila Ribeiro. Essa tomada de consciência é potente para uma atuação pedagógica. Como educadora negra, compreendo meu fazer a partir de minha construção identitária e das experiências que me fizeram perceber o ato político que é a presença do meu corpo com seus elementos estéticos no lugar do conhecimento.
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Outra etapa fundamental para mudança e quebra de práticas sociais é a verbalização dos termos “negro”, “branco”, “branquitude”, “racismo”, “racista”. Não há como dissipar aquilo que não está dito, exposto.
Depois do processo de conscientização do lugar social vem o estágio de reflexões acerca das práticas que podem de fato romper barreiras e desconstruir perspectivas, traçando um campo de ações afirmativas efetivas.
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Acredito que a educação antirracista se dá em um grande e complexo pano de fundo, a construção da estima negra, e, nesse cenário, grandes trilhas configuram o trajeto de revolução, ressignificação do olhar sobre a África, o conhecimento ancestral, a construção da identidade nacional, por meio do compromisso e do respeito à história dos povos africanos e afro-brasileiro e à representatividade como elaboração de um novo referencial.
O caminho apresentado acima é labiríntico! Cada trilha carrega estigmas racistas de nossa sociedade e marcos civilizatórios, e constantemente renova suas articulações para perpetuar tal perversidade.
No entanto, a escola tem em mãos a maior ferramenta para uma revolução social: sua influência na elaboração da subjetividade e a possibilidade de ressignificação de nossa memória coletiva.